Catálogo Genealógico e Bio-Iconográfico de Antonio Marques da Costa Soares e sua descendência Mito Realidade



Livro de Fernando Loyo Meira Lins.
Recife: Nectar, 2007
Copyright: Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano.

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PREFÁCIO

Fernando Loyo Meira Lins - O Homem e a Obra

Fernanco Loyo de Meira Lins nasceu em 1920, no bairro da Boa Vista, filho de Armando de Meira Lins e Alzira de Amorim Loyo. Seu pai, formado em medicina, especializou-se em pediatria, sendo também professor da Faculdade de Medicina do Recife. Sua mãe recebeu esmerada educação, propiciada pela abastada família Amorim Loyo. Formou-se em medicina em 1952, com especialidade em pediatria, vindo a se tornar professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Recife, seguindo as trilhas abertas por seu pai. Médico dedicado e pesquisador detalhista, fez bela carreira na profissão que escolheu. Casou com Eurinice de Mello Paes Barreto, filha do genealogista Eugenio de Mendonça Paes Barreto, sócio correspondente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e de diversos institutos genealógicos, como o de São Paulo e o de Pernambuco, do qual foi fundador. Do sogro, Fernando adquiriu o espírito do genealogista. À genealogia aplicou a minúcia de pesquisador na medicina, verificando cada detalhe e comprovando, com certidões e documentos, as informações coletadas. Desse seu trabalho como genealogista é fruto este livro póstumo.

A este livro dedicou sua vida e suas horas de lazer. Pesquisou em cartórios e nas sacristias de igrejas, em arquivos públicos e privados. Entrevistou quantos parentes conseguiu preenchendo pastas e pastas com suas anotações e esboços genealógicos. Como consequência deste trabalho, como o sogro, filiou-se a institutos genealógicos e foi membro regular do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, fazendo parte da Comissão de Genealogia.

Na Comissão de Genealogia conviveu, dentre outros, com Sylvio Paes Barreto, com Fernando Cabral de Mello, com Zilda Fonseca, com Reinaldo Carneiro Leão e com o autor deste prefácio, Yony Sampaio. Frequentemente, ao final dos trabalhos de cada sábado, reuniam-se para, regado por um bom uísque ou uma cerveja gelada, repassar histórias, dúvidas e curiosidades sobre as famílias pernambucanas. Desses encontros surgiu sólida amizade. E seu trabalho prosseguia. Como todo genealogista, nunca conclui seus trabalhos, pois sempre há dúvidas e esperança de esclarecer mais algum detalhe ou completar a genealogia de um ramo inconcluso.

Foi nesta fase que lhe surgiu um tumor na próstata. Ele, sendo médico, aquilatou bem a situação. E apesar de intenso tratamento, viu o tumor tomar-lhe o organismo. Assumiu, então, o compromisso de digitar seu trabalho. Deixá-lo pronto para publicação. Do muito que custou, somos testemunhas a família e os amigos. Muitas vezes prostrado pelas náuseas decorrentes da quimioterapia, sentado em almofadas, passava horas digitando seu imenso trabalho. E aos poucos o livro tomava corpo. Acompanhávamos seu evoluir, agora, em visitas periódicas a seu apartamento na Rua da Aurora. A alegria de viver, de dançar, de divertir-se foi substituída pela ânsia de concluir. Finalmente, um sábado, chamou-nos a seu apartamento e fez entrega das pastas, para o acervo do Arqueológico, e do disquete contendo seu trabalho. Dois ou três dias depois faleceu, quem sabe exaurido pelo imenso trabalho, mas o dever cumprido, com seus familiares, amigos e admiradores.

O disquete passou a sofrer tratamento, visando, primeiro, passá-lo para um programa mais moderno, o Word, em uma versão atualizada. Depois, foram, feitas correções de digitação. De texto não foram quase necessárias, pois era meticuloso e profundo conhecedor da família. Trabalho pronto, permaneceu anos esperando publicação. Sai em uma forma incompleta, sem as inúmeras fotografias que possuía e que muito enriqueceram o trabalho. Sai em tiragem reduzida, apenas para permitir o acesso dos estudiosos.


UMA GENEALOGIA URBANA

O trabalho de Fernando Loyo Meira Lins, entre outros muitos destaques, é caso quase único de uma família urbana. A grande maioria dos trabalhos genealógicos, no Nordeste, trata de famílias rurais, seja da chamada aristocracia açucareiras ou de fazendeiros do Agreste e do Sertão. Muitos trabalhos analisam troncos das primitivas famílias estabelecidas no entorno aos Albuquerque e Cavalcanti. No caso presente, trata-se de família urbana, ligada ao comércio, da burguesia urbana, estabelecida no Recife.

Ao longo da análise, como pano de fundo, tem-se a prosperidade oriunda do comércio que vem conferir ao Recife o título de capital, originalmente de Olinda. É essa gente, aqui tratada, que fez a riqueza do Recife, expande estabelecimentos e como capital mercantil em expansão faz prosperar toda a província. Acompanha o fenecer de Olinda, a capital da nobreza da terra, e dá substância à transformação do Recife no grande polo regional para toda a área ao norte do São Francisco.

O tronco - Antônio Marques da Costa Soares, português nascido em 1764, chega ao Recife entre 1785 e 1786, onde adquire considerável fortuna. Grande comerciante, tem participação na grande maioria dos empreendimentos, inclusive no tráfego negreiro. Como todo grande comércio, atua no financiamento da produção, tendo larga presença no interior do Nordeste. E, em consequência, adquire propriedades rurais - engenhos e sítios - muitos recebidos como pagamento de dívidas, e muitos prédios urbanos.

Esta burguesia urbana estabelece laços de amizade e parentesco em seu círculo social. Por casamento de três filhas, ligam-se os Marques Costa Soares aos Amorim, também ricos comerciantes com tronco nos irmãos portugueses Antônio José d'Amorim e Joaquim José d'Amorim, da Póvoa do Varzim, e no sobrinho, também português de mesma origem, José João d'Amorim. Esses Marques d'Amorim, Soares d'Amorim, Amorim Silva ou só Amorim, fazem parte da aristocracia urbana do Recife. Ricos, elegantes, habitantes de grandes casarões no Benfica, nome que já diz muito do fausto desfrutado, constituem o "crème de la crème" da sociedade pernambucana, apesar da origem modesta, fato, de resto, comum a todos estes nossos portugueses, nossos mascates, se fazem ricos no comércio, expandido a riqueza original de Antônio Marques da Costa Soares.

A descendência integra-se a outras famílias portuguesas, comerciantes, como os Dubeux, descendentes de Claudio Cândido Dubeux, outro grande comerciante recifense no século XIX. Também ligam-se, aos descendentes de Bento José da Costa, outro grande comerciante português. E aos Loyo, descendentes do português de Vizeu, José da Silva Loyo.

Ao final do século XVIII estes portugueses e seus descendentes já se encontram integrados na sociedade pernambucana ao ponto de muitos, no início do século XIX se apresentarem como ardorosos revolucionários e partidários da separação de Portugal.

A presença inglesa no Brasil, desde a vinda de D. João VI, protegido por naus inglesas, é marcante. O Recife, polo comercial em grande expansão, conta com a expressiva colônia inglesa, agentes comerciais e comerciantes os quais, por casamento, integram-se à grande família Marques da Costa Soares e Marques d'Amorim. Entre outros, citam-se os Goddard e os Christophers. Muitos outros, como os Needham, ligam-se aos Dubeux e outras famílias de comerciantes abastados.

Os Marques d'Amorim ligam-se também com holandeses, como Pieter Cornelis Von Söhsten, gerente comercial, comerciante e cônsul da Holanda.


GUIA METODOLÓGICO DO TRABALHO

Fernando denomina seu trabalho à semelhança do seminal estudo de Frei Jaboatão: Catálogo e Bio-Iconográfico de Antônio Marques da Costa Soares e Sua Descendência - Mito Realidade. Mito pelas inúmeras histórias de portugueses pobres, aqui chegados muito jovens e enriquecidos no comércio. Realidade pela comprovação dessas histórias. no caso presente.

Por se tratar de uma genealogia urbana as informações estavam mais facilmente disponíveis. A meticulosidade do autor o leva a buscar cada registro, inclusive de gerações presentes, anotando livros e páginas. De muitos obteve cópia documentada dos registros. Não se contentou com informações orais, mas quando possível, buscou a comprovação. Este é outro aspecto de destaque no trabalho.

Fernando dividiu o trabalho em partes (livros, como se diria antigamente), capítulos e parágrafos, correspondendo cada divisão a um ramo. A parte inicial trata do tronco: o casal Antônio Marques da Costa Soares e Manoela Ignacia dos Passos, dos quais nasceram 13 filhos. Cada filho é descrito em uma parte, denominada Titular. Os netos são destacados em capítulos, chamados de Prole. Ou seja, uma parte pode não ter capítulos (Proles) se não houver filhos ou ter tantos capítulos quantos forem os filhos, conhecidos e analisados. Um capítulo, por sua vez, subdivide-se em parágrafos, chamados de Progênie, cada um correspondendo a um bisneto. Dessa forma, tem-se:

Parte: Titular - Filhos

Capítulo: Prole - um para cada neto

Parágrafo: Progênie - um para cada bisneto

As gerações são identificadas por números romanos. Assim I - titular, corresponde aos filhos do casal tronco; II - aos netos, III - aos bisnetos, IV - aos trinetos, V - aos tetranetos e assim por diante. O número arábico que se segue ordena apenas os filhos de um casal: II-01, II=02, etc., são irmãos, na geração dos netos. Este número é repetido e não serve como identificação individual, mas orienta o leitor a seguir a descendência.

Para evitar confusão de nomes, no entanto, o autor adotou uma numeração única, para cada nome, numeração corrida pois não obedece a cronologia nem a gerações. Ou seja, a numeração única segue a ordem em que os nomes aparecem no trabalho. Começa com 0100, o Tronco, e segue até 4.425. Adverte-se, no entanto, que com exceção do tronco, cada nome pode assumir dois números: um quando são listados os filhos de um casal e outro quando se trata da descendência do mesmo ou da mesma. Por exemplo: o primeiro filho é 0191, mas como titular aparece como 0114. Seu primeiro filho é 0115, mas no capítulo próprio - Prole 01 - já toma o número 0118. A décima terceira filha tem o número 0115, quando é listada com os irmãos, mas é o último na descendência, 4.425. O ideal era que cada nome tivesse um único número, mas a numeração corrida adotada resultou nesta duplicação. Advertência feita, os editores decidiram manter a numeração original adotada por Fernando Loyo de Meira Lins.

Como em trabalhos de genealogia, os cônjuges não possuem numeração. Esta é exclusiva da descendência.
Para auxiliar o leitor foi incorporado um sumário com partes (Titular) e capítulos (Prole), não sendo incluídas as Progênies para não alongar excessivamente.

No final do texto o leitor vai encontrar notas do autor contendo esclarecimentos e referências bibliográficas. Algumas poucas notas encontram-se em branco, possivelmente devido ao exíguo tempo que o autor teve para concluir o trabalho.

Espera o prefaciador que este trabalho, que tanto custou a seu autor, seja útil aos estudiosos, aos historiadores, aos genealogistas e às inúmeras famílias componentes deste frondoso Tronco dos Marques da Costa Soares - Amorim.

Neste IAHGP, em dias de março de 2007
Yony Sampaio



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