41138 / V.5 LÍVIO LOPES CASTELLO BRANCO E SILVA, n. 11-09-1811 em Santo Antônio de Campo Maior (dois anos antes de o lugar se tornar vila), f. 05-12-1869 em Parnaíba. Em 1825 começou a frequentar a escola particular do frei Antônio de Jesus Maria Faya, no povoado de Nossa Senhora da Conceição das Barras, hoje cidade de Barras. Aos 17 anos de idade, isto é, em 1828, foi nomeado pelo governador da província do Piauí para o posto de alferes. Advogado provisionado por mais de 22 anos. Exerceu por várias vezes, no antigo município e comarca de Campo Maior, os cargos de vereador, juiz de paz e promotor público. Em 1836 exercia importante função na inspetoria da Fazenda Pública de Campo Maior. Em 1837 já era comandante do destacamento da cidade de Campo Maior. Recebeu o título de coronel da Guarda Nacional em 19-03-1858. Em 1838, estourou no Maranhão a guerra civil que se denominaria "revolução dos balaios", a qual teve grande repercussão na província do Piauí. A Balaiada, que durou de dezembro de 1838 a fevereiro de 1840, foi na realidade um levante da classe social baixa, composta de cafuzos, caboclos, mulatos e negros ex-escravos e seus descendentes no Maranhão, contra senhores detentores de terras, portugueses ou seus descendentes, por seus desmandos e abusos. Lívio Lopes Castello Branco e Silva, que pertencia à elite de proprietários de terras no Piauí, era aparentemente um homem liberal, avançado para a época e cônscio desses problemas sociais. O Piauí tinha uma estrutura social similar à do Maranhão, e Lívio Lopes Castello Branco e Silva era fruto de gerações passadas [v. 40.027, João do Rego Castello Branco, 1o. do nome] que, no Piauí, com outras famílias de descendentes de portugueses, envolveram-se em vários movimentos para "apaziguar", "domesticar" ou mesmo, por que não dizer?, "exterminar" os índios em seus aldeamentos, na conquista de novas terras. Ao participar da Balaiada, Lívio Lopes tentou redirecionar essa revolta social espontânea, sem motivação ideológica, mas não teve êxito. Ele abandona o movimento e paga um alto preço por esse envolvimento. "Em janeiro de 1839, o movimento já se estendia até o Piauí, para onde seguiu Raimundo Gomes Vieira Jatahy, principal líder da Balaiada, a fim de entrar em contato com Lívio Lopes Castello Branco e Silva, um liberal de Campo Maior" [Santos, 1983, p. 79]. No transcorrer do primeiro semestre de 1839, o movimento rebelde alcançou proporções gigantescas, culminando com a tomada de Caxias em 1º de julho daquele ano. A cidade, na época, era o maior centro comercial do sertão maranhense. Os balaios ampliaram suas ações por toda a região oriental da província, ramificando-se pela margem piauiense do rio Parnaíba. Aparentemente, o pretexto de Lívio Lopes para ir a Caxias era retirar uma irmã e duas cunhadas da zona de conflito. Ao chegar lá, em 30 de maio de 1839, encontrou a cidade sitiada. Surpreso, julga conveniente "aderir" aos balaios, juntando-se a Raimundo Gomes Vieira Jatahy. E, com efeito, em breve se achou à frente de uma força de 6.500 homens enquanto rumava para Caxias. Passados alguns dias, assumindo o comando das forças sitiantes, Lívio Lopes coordena o cerco e a tomada da cidade, no intuito de evitar desatinos e atos de barbaridade por parte dos balaios. Caxias resistiu até 1º de julho, dia em que capitulou, cansada de esperar pela ajuda do governo da província do Maranhão. Colocando-se à frente dos revoltosos por ocasião do assédio e da capitulação, o propósito de Lívio Lopes parece ter sido levantar o cerco à cidade e pacificar os insurgentes, o que não logrou realizar, dada a exaltação e a insubordinação da maior parte das hostes e dos líderes balaios. Conseguiu, entretanto, depois da capitulação de Caxias, estabelecer alguma ordem entre os revoltosos, salvando, assim, a vida de um grande número de famílias, que graças à sua energia deixaram de ser vítimas da mais execrável perversidade. Conseguiu, ainda, que uma deputação nomeada pelo conselho militar das forças insurgentes e integrada também por algumas pessoas graduadas de Caxias fosse a São Luís, capital da província, entender-se com o presidente. Lívio Lopes, desgostoso com o procedimento do presidente da província do Maranhão - que perdia a ocasião mais oportuna de promover a pacificação -, vendo que não manteria por mais tempo o controle das tropas revoltosas e tendo já se desavindo com alguns chefes mais intolerantes e imprudentes da revolução balaia, deliberou deixar Caxias, retirando-se com as tropas de seu comando. Percebeu que deixar a cidade era a forma de não passar pelo dissabor de testemunhar as cenas de ferocidade e violência que necessariamente iriam vitimar a população de Caxias, como realmente acabou por acontecer, contribuindo para tanto o fato de a província do Maranhão ter um presidente fraco. Retirando-se de Caxias, procurou ainda evitar o pior, por meio de uma contra-revolução, e nesse sentido tentou se entender oficialmente com os chefes das forças do governo da província do Maranhão, expondo-lhes suas intenções e oferecendo-lhes seus serviços, pois não encontrou interlocutor nos chefes das forças do governo. Nessas circunstâncias, não podendo ver realizado nenhum dos seus planos salvadores, determinou-se a abandonar a revolução quando ela se achava no auge - na verdade, prosseguiria ainda por cerca de dois anos. Assim, no dia 10 de julho de 1839, no lugar denominado Barra dos Pombos, na margem do rio Parnaíba, na província do Maranhão, passou revista em suas tropas e na madrugada seguinte, atravessando o rio, retirou-se, dando a um oficial de sua confiança a incumbência de debandar a força ao amanhecer do dia. Assim, retirou-se ocultamente da revolução balaia, sem a glória de tê-la abafado ou encerrado pelos meios pacíficos. Pouco depois começariam os atos de terrível ferocidade e selvageria contra a população de Caxias, até que finalmente, em 7 de fevereiro de 1840, sob o comando do coronel Luiz Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, tomaram-se as providências para terminar a guerra e pacificar a província. Lívio Lopes Castello Branco e Silva, depois de abandonar a revolução e atravessar o Piauí, passando por Sobral, no Ceará, e entrar no Rio Grande do Norte, no seu trajeto pelos sertões teve de vencer grandes dificuldades para se desembaraçar da perseguição de seus inimigos, que, auxiliados pelas forças governamentais, procuravam-no por toda parte. Prenderam-no por fim no interior da província do Rio Grande do Norte, em 30 de outubro de 1839. Lívio Lopes, contudo, conseguiu se desfazer dessa prisão às 9 horas da noite do mesmo dia e, internando-se novamente pelos sertões, foi ter à capital da província da Paraíba. Em janeiro de 1840, passou dali para o Recife, onde pretendia embarcar para a Inglaterra, na expectativa de dias melhores. Desistiu da viagem à Europa a conselho de pessoas amigas e se recolheu no interior da província de Pernambuco, onde permaneceu por vários meses. Conforme esperado, em 22-08-1840 foi publicado no Diário de Pernambuco um decreto que anistiava todos os crimes políticos cometidos no Império. Em março de 1841, Lívio Lopes decidiu voltar ao Piauí, via Sobral. Foi novamente preso em Sobral e, desta vez, remetido para Fortaleza, capital da província do Ceará, cujo governador, após examinar os documentos apresentados por Lívio, reconheceu que ele já não se achava sujeito a penalidade alguma. Entretanto, para evitar problemas com o governo do Piauí, mandou que fosse recolhido a bordo da escuna de guerra Victoria e, no dia seguinte, transportado para o Recife, onde, tão logo chegou, foi posto em liberdade por ordem do presidente da província. Lívio Lopes Castello Branco e Silva, ao retornar ao Piauí, teve uma infatigável e distinta militância na imprensa, publicando cerca de dez jornais em vinte anos: A Malagueta Maranhense, São Luís, 1844 . O Liberal Piauhyense, Caxias MA, 1846 . Correio dos Municípios, Caxias, 1848 . Aucapura, Oeiras PI, 1850 . Anjos Piauhyenses, Oeiras, 1851 e 1852 . Patuléa, Teresina, 1855 . Correio Piauhyense, Teresina, 1856 . Conciliador Piauhyense, Teresina, 1857. . O Propagador [com Deolindo Mendes da Silva, integrou de janeiro de 1858 a dezembro de 1864 a redação desse importante órgão do antigo Partido Liberal da província do Piauí] . O Povo [meramente eleitoral e restrito ao município de Campo Maior; impresso em Teresina], 1863. Escreveu ainda uma exposição documentada sobre sua participação na Balaiada e nela incluiu um honroso parecer do grande jurisconsulto e estadista José Thomaz Nabuco de Araújo, trabalho que não publicou e que provavelmente se perdeu. Em 22 de dezembro de 1869, A Imprensa, órgão do Partido Liberal da província do Piauí, publicou um editorial rendendo-lhe grande homenagem por ocasião de seu falecimento. [Araújo, 2001; Assunção, 1988; Borges, 1878, p. 100-17; Borges, 1880; Castello Branco Filho, 1983, p. 59-66; Castelo Branco Neto, 1989, p. 19-22; Chaves, 2005, p. 461-5; Corrêa, 1928; Ferraz et al., 1926, p. 19, 41, 77, 79; Magalhães, 2001; Nunes, 1975; Oliveira, 1985; Pereira da Costa, 1909, p. 242-3, 245, 247, 256, 259; Santos, 1983.] Lívio Lopes Castello Branco e Silva casou-se em 15-06-1834, na vila de Campo Maior, com sua prima BÁRBARA MARIA DE JESUS CASTELLO BRANCO [41.138a], n. na fazenda de São Pedro, no município de Campo Maior (depois Livramento, atual José de Freitas), f. em Parnaíba [v. 43.028]. Filha de Miguel de Souza Borges Leal Castello Branco [1º do nome] e de Maria de Jesus Castello Branco, primos entre si. Ignoramos a exata cronologia do nascimento dos filhos que será apresentada a seguir. Foram pais de: |