História de Mário Magalhães da Silveira


Verbetes / Volume
33010a / V.6
MÁRIO MAGALHÃES DA SILVEIRA, n. 24.04.1905 em Maceió, f. 09.09.1986 no Rio de Janeiro. Médico sanitarista formado em 1926 na Faculdade de Medicina da Bahia, em Salvador. Funcionário do Departamento Nacional de Saúde. Foi amigo pessoal de Luís Carlos Prestes e Celso Furtado; da nata intelectual da esquerda no Brasil. Preso pela ditadura de Getúlio Vargas. Filho de José Magalhães da Silveira (irmão de Faustino Magalhães da Silveira, por sua vez, pai de Nise) [Mello, 2014]. Por volta de 1922, MÁRIO MAGALHÃES DA SILVEIRA passou a viver em Maceió com sua prima paterna NISE MAGALHÃES DA SILVEIRA [NISE DA SILVEIRA], n. 15.02.1905 em Maceió, f. 30.10.1999 no Rio de Janeiro. Fez o secundário no Colégio do Santíssimo Sacramento de Maceió. Médica psiquiatra formada na Faculdade de Medicina da Bahia em 1926, única mulher a cursar medicina numa turma de 156 alunos. Começou a carreira no Hospital da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, onde entrou para o serviço público por concurso para médico psiquiatra da antiga Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental. Ali o pioneirismo de Nise da Silveira começou a despontar, nos remotos anos 20 do século XX, logo depois de ela concluir a Faculdade de Medicina. Engajada na luta contra a ditadura de Getúlio Vargas, Nise da Silveira foi presa em 1936 e afastada do serviço público até 1944. Na cadeia, despertou a admiração de um preso ilustre, o escritor Graciliano Ramos, que narra o encontro no livro Memórias do cárcere. De volta à ativa em 1944, no Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro, posteriormente Centro Psiquiátrico D. Pedro II [CPPII], no Rio de Janeiro, Nise da Silveira se recusava a adotar os choques elétrico e insulínico, a camisa-de-força, o isolamento, a psicocirurgia e outros métodos da época, pois os considerava extremamente brutais, recordando-lhe as torturas aplicadas aos dissidentes políticos do ditador Vargas. Em 1946 fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação [STOR]. Com lápis de cor, tinta, papel, tela, guache, aquarela, agulha e linha, Nise da Silveira acalmou seus pacientes, dando-lhes o "prazer de lidar" com as emoções e expressá-las através da criação. Em pouco tempo o ateliê ganhou notoriedade e a produção dos pacientes, pela qualidade pictórica, tornou-se uma documentação impressionante das imagens espontâneas do inconsciente; pessoas portadores de psicoses. Em 1947, esse material originou uma exposição organizada pelo então Ministério da Educação e Cultura. Nise da Silveira é celebrada por ter conseguido transformar atividades de terapia ocupacional numa leitura do imaginário inconsciente. Com esses trabalhos feitos pelos internos, fundou em 1952, no Rio de Janeiro, no Engenho de Dentro, o Museu de Imagens do Inconsciente (VER MAIS EM: http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br), cujo acervo contém atualmente cerca de 350 mil itens - alguns de grande valor artístico -, entre pinturas, desenhos, modelagens, xilogravuras e outras técnicas. Parte desse acervo está catalogada e constitui, no gênero, uma das maiores e mais diferenciadas coleções do mundo. O museu é também um centro de estudo e pesquisa – (obras de arte dos internos: Fernando Diniz, Emygdio, Raphael, Adelina, Isaac, Carlos Pertuis e outros, reconhecidas pelo crítico Mario Pedrosa). O acervo pessoal de Nise da Silveira foi tombado pela UNESCO – 2014. As atividades que ali se realizam fazem parte da história da reforma psiquiátrica no país e vêm exercendo grande influência no processo de transformação dos espaços e dos métodos terapêuticos, constituindo-se em referência na área de saúde mental. Foi graças às pesquisas de Nise e ao valor que ela atribuiu à expressão plástica dos doentes mentais que, por exemplo, as obras de Bispo do Rosário [c. 1910-1989] puderam ser preservadas e postas no devido lugar. Em 1955, visando propagar as ideias de Jung e criar uma ponte entre o Museu de Imagens do Inconsciente e a sociedade, Nise da Silveira formou o Grupo de Estudos C. G. Jung com Dr. Nelson Bandeira de Mello, composto por profissionais da psicologia analítica como Dra. Alice Marques dos Santos e Dr. Carlos Byington. Com o tempo, o grupo, passou a ser verdadeira porta de entrada para tantos quantos interessados, estudiosos, da vasta obra de Jung. O ainda estudante Dr. Walther Boechat, inúmeros artistas visuais e teatro; Domitila Amaral e Rubens Correa, diretores de cinema: Leon Hirszman, poetas, educadores; Augusto Rodrigues, cientistas, diplomatas como o embaixador Meira Pena, escritores; Artur da Távora, e tantos, tantos outros. Esse grupo se reunia às quartas-feiras, no seu consultório, no Flamengo, em regime aberto, e foi presidido por ela até a sua morte, aos 94 anos de idade. Percebendo o quanto o ambiente hospitalar conspirava contra aqueles pelos quais devia zelar, em 1956 Nise cria com colaboradores a Casa das Palmeiras (na época na Tijuca e hoje localizado no bairro de Botafogo), com o objetivo de dar suporte aos pacientes egressos do hospital. Na instituição se implantou um projeto nos moldes em que ela concebia a psiquiatria e que foi precursor do atual hospital-dia, dos lares abrigados e centros de convivência. Paralelamente, Nise prosseguiu com sua atuação profissional no Centro Psiquiátrico Pedro II até 1975, quando se aposentou por idade; no entanto, pediu para continuar trabalhando ali - agora "como estagiária" -, tamanho era o seu amor pelos internos e pela pesquisa do imaginário inconsciente. Preocupada com o destino do Museu, pouco antes de se aposentar, funda em 05 de dezembro de 1974 a Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente. Com o registro no Diário Oficial do Rio de Janeiro em 1975, a Sociedade vem desde então, há mais de 45 anos sendo a mantenedora do Museu. Ao chegar ao Rio de Janeiro na década de 20 do século passado, Nise da Silveira encontra seu primo Júlio Pires Porto-Carrero [Pires Ferreira, v.1, p. 196], médico psiquiatra formado na Bahia, freudiano, já trabalhando na Colônia Juliano Moreira, e com ele começa a tomar consciência dos métodos absurdos adotados ali, trazidos da Europa. Eles certamente conheceram o psicanalista Ulysses Pernambucano de Mello [2º do nome] [v. 30086], com o qual não sabiam que tinham parentesco. Os três pernambucanos foram todos pioneiros da psicanálise no Brasil. Sobre a vida e a obra de Nise da Silveira, é indispensável consultar Nise, arqueóloga dos mares [Bernardo Carneiro Horta] e Senhora das imagens internas [Martha Pires Ferreira, org.].
Nise da Silveira e Mário Magalhães da Silveira não deixaram descendentes.



Álbum de fotografias (4)
Nise Magalhães da SilveiraNise da Silveira [Nise Magalhães da Silveira] [33010_6] com seu companheiro
Mário Magalhães da Silveira [33010a_6]. Foto Acervo Nise da Silveira.
Nise Magalhães da Silveira [Nise da Silveira]Nise Magalhães da Silveira [Nise da Silveira] [33010_6] em sua formatura em Medicina em 1926, dentre seus colegas e seu primo e companheiro Mário Magalhães da Silveira [33010a_6]. Foto Acervo Nise da Silveira.
Mário Magalhães da SilveiraMário Magalhães da Silveira [33010a_6]. Foto Acervo Nise da Silveira.
Mário Magalhães da SilveiraMário Magalhães da Silveira [33010a_6] e Nise Magalhães da Silveira [Nise da Silveira] [33010_6]. Foto Acervo Nise da Silveira.