História de Fernando Pires Ferreira (1º do nome)


Verbetes / Volume
23436 / V.4
FERNANDO PIRES FERREIRA (1º do nome), n. 26.04.1842 na Parnaíba, e + 27.10.1907 no Rio de Janeiro. Fez seus estudos primários no Engenho Paraíso, no município de São Bernardo, MA, e os estudos secundários em São Luís. Aos 19 anos obteve o diploma de bacharel em Ciências, em Paris, na França. Formou-se pela Faculdade de Medicina de Paris em 02.07.1867, tendo apresentado a tese de doutoramento na especialidade de oftalmologia, com o Título "De l´opération de la cataracte par l´extraction linéaire scléroticale" (Blake, 1893, Vol 2:344). Foi auxiliar, assistente e por fim Chefe de Clínica Oftalmológica, aos 25 anos de idade, do célebre oftalmologista alemão radicado em Paris, Prof. Dr. Louis De Wecker, grangeando a amizade de seus mestres Velpeau, Nelaton, Gosselin, Laugeire, Trousseau, Labbé, e etc... Membro da Associação Científica da França. Decidiu-se por estudar medicina em Paris, pois não existia no Brasil a especialidade de oftalmologia (havia apenas os chamados "médicos práticos"); além disso, sua mãe sofria de catarata e ele "queria dar a luz a quem lhe tinha dado à luz". (Tenha-se ainda presente que os vínculos econômicos do norte do Piauí, associados aos do Maranhão, continuavam sob a influência dos conquistadores franceses, desde o século XVIII). De volta ao Brasil, em 1868, operou afetivamente a mãe, sobre uma mesa da casa-grande do Engenho Paraíso, dando cumprimento à promessa que se fizera de dar "a luz a sua mãe". Isso o levou a ficar conhecido entre os escravos do Engenho Paraíso como "bruxo": o fato da Sinhá ter recuperado a visão era para eles um "milagre". Nesse mesmo ano, apresentou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a tese "Breves considerações sobre as aplicações da iridotomia no tratamento da catarata". Graças a ela, o jovem Dr. Fernando Pires Ferreira era admitido em 22.11.1869 na Academia Imperial de Medicina: tinha 27 anos, e até hoje é o médico mais jovem a ser eleito para aquela entidade. Tornou-se logo colega dos mais eminentes médicos da época. Fundou em 1872, o Curso de Oftalmologia na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, tornando-se o "Pai da Oftalmologia" no Brasil: tanto por ser o primeiro médico brasileiro formado nessa especialidade, como por seu pioneirismo na implantação do Curso na Santa Casa, onde, aliás, passou a transmitir seus conhecimentos, criando escola e deixando brilhantes discípulos, entre os quais, o eminente Dr. José Antonio Abreu Fialho e o Dr. Otávio Rego Lopes. Ao mesmo tempo, exercia sua especialidade na Santa Casa de Misericórdia, no Hospital de São Francisco de Paula, na Sociedade Dom Pedro V, na Brigada Policial e na Ordem 3ª de Santo Antonio, onde nas manhãs de domingo atendia gratuitamente os pobres da cidade. Em 1872 residia na Rua da Ajuda, 42 e tinha seu consultório de Oculista na Rua do Rosário, 50, depois 64. Por iniciativa sua e amizade com o Visconde de Saboya, criou em 1881 a Cátedra de Oftalmologia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Fugindo ao monopólio e confirmando sua nobreza de caráter, indicou para essa cátedra seu amigo e colega o Dr. Hilário de Gouvea, recém chegado da Europa onde durante 15 anos adquiriu novos conhecimentos. (Hilário de Gouvea, formado em medicina no Rio de Janeiro, em 1866, foi para Heildeberg, na Alemanha, especializando-se em oftalmologia; voltou ao Brasil em 1881, com quase 40 anos de idade). Fernando Pires Ferreira enviuvou aos 45 anos, em 1887, o que o levou a não participar nem da organização nem dos trabalhos da secção de oftalmologia do Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina, realizado no ano seguinte no Rio de Janeiro. Chamado à política, exerceu um mandato de Deputado na Assembléia Geral pelo Piauí (1876-1878) (Costa, 1909:342).
Exerceu gratuitamente o alto cargo de Delegado da Instrução Pública, tendo sido por essa benemerência condecorado com a comenda de Oficial da Ordem da Rosa.

"Fazendo justiça aos seus méritos excepcionais de operador emérito e de eminente cultor da medicina, ofereceu-lhe D. Pedro II, em nome do governo, o título de Visconde. Soberano que era numa profissão sublime, onde as honrarias maiores e as considerações são moda, mimos ilusórios e pequeninos; diante do milagre de um cego que recupera a visão, de um atormentado a quem se restaura a vida _ soube recusar a distinção" (do discurso de posse de Helion de Menezes Povoa, na Academia Nacional de Medicina). Herdou de seus pais mais de 6.200 braças de terra, ao longo e ao norte do rio Parnaíba, dos lados do Piauí e do Maranhão (ver Apêndice "Herança de Fernando Pires Ferreira").
Fernando Pires Ferreira, morador na freguesia da igreja da Candelária, da cidade do Rio de Janeiro, casou-se em 19.06.1869 na igreja Paroquial do Santíssimo Sacramento da Sé, da cidade do Rio de Janeiro, pelas sete horas e três quartos da noite com FRANKLINA IRIA DE MENDONÇA FERREIRA [viúva de Luiz Gomes Ferreira] [ver #24.688 V.4], moradora na freguesia da igreja Paroquial do Santíssimo Sacramento da Sé e nascida em 20.10.1834 (b. 23.04.1841 na matriz de São José, da cidade do Rio de Janeiro), + 22.04.1887 no Rio de Janeiro.
Filha de Cândida Militana Soares de Mendonça e de Manoel José Cardoso. Tiveram como testemunhas de casamento, o Dr. Domingos Azevedo Couto de Duque Estrada, o Dr. José Joaquim Ferreira do Valle e Antônio Félix Martins.

“Aos dezenove dias do mes de junho de mil oito centos e sessenta e nove n’esta Igreja Parochial do Santissimo Sacramento, pelas sete horas e tres quartos da noite em virtude da Provisão de Sua Excellencia Reverendissima,depois de dahi feitas todas as determinações do Concilio de Trento, Constituição do Bispado e lei civil, tomados os depoimentos verbaes de estylo, de que não resultou impedimento algum, em minha presença e das testemunhas abaixo assignadas por palavras depresente receberão-se em Matrimonio o Dr. Fernando Pires Ferreira, filho legitimo de Antonio Pires Ferreira e de Dona Lina Carlota de Jesus Pires Ferreira, natural e baptizado na Freguezia de São João da Cidade de Parnahyba na Província do Piauhy e morador na Freguezia da Candelaria d’ esta Corte, e Dona Franklina Iria de Mendonça Ferreira, viuva de Luiz Gomes Ferreira e moradora n’esta freguezia do Santissimo Sacramento, como tudo consta da mesma Provisão. E não lhes conferi as Bençãos Nupciaes por a contrahenteviuva: do que pra constar lavrei este assento que assignei. O Coadjutor Guilherme Luiz de Araujo D. Fran co . Balthazar da Silveira –Dr. Dom os. Azer do. Couto. de Duque Estrada,Dr. José Joaq m. Ferr a. Valle,Antonio Felix Martins”.
Fernando Pires Ferreira é Patrono da Cadeira 18, da Academia de Ciências do Piauí.
Fernando Pires Ferreira e Franklina Iria de Mendonça Cardoso foram pais de:
43871 / V.5
Fernando Pires Ferreira [v. 43.884].

Anexos


Fazenda Paraíso - introdução

autor: Ailton Vasconcelos Pontes
Documentação por Ailton Vasconcelos Pontes em agosto de 2019.

Fazenda Paraíso - fotos 2019

autor: Ailton Vasconcelos Pontes

Fazenda Paraíso - planta baixa

autor: Ailton Vasconcelos Pontes
desenho técnico

Fazenda Paraíso - elevação frontal

autor: Ailton Vasconcelos Pontes
desenho técnico

As Soares de Mendonça

autor: Matheus Miranda de Sá Campelo
Três Damas Educadoras no SéculoXIX

Herança Fernando Pires Ferreira

APÊNDICE "HERANÇA DE FERNANDO PIRES FERREIRA" (PIAUÍ)

Academia Brasileira de Medicina

Sessão em 23 de Abril de 1942 na Academia Brasileira de Medicina

Carta a Edgardo Pires Ferreira

Carta a Edgardo Pires Ferreira, em 25 de Abril de 1982.

A Vida Fluminense

O oculista Fernando Pires Ferreira. Publicado em "A Vida Fluminense".

Literatura Piahuyense

Discurso de Fernando Pires Ferreira sobre a oculística. Publicado pela "Literatura Piahuyense".

Cada Rua sua História

autor: Caio Passos
Parnaíba, 1982
(contribuição de Dilson Lages)
arquivo pdf - 30 mB

Lançamento do livro “Fernando Pires Ferreira/Um Bruxo à Mesa de Jantar”

Lançamento da Biografia de Fernando Pires Ferreira
autor: Eneas Barros


Álbuns de fotografias


Doutorado de Fernando Pires Ferreira

Tese de Doutorado de Fernando Pires Ferreira na Faculté de Médecine de Paris em 1867

fotografias.


Louça Pires Ferreira

Louça do Serviço de Franklina e Fernando Pires Ferreira.
Monograma da Louça Pires Ferreira: Com dois F, um do prenome, Fernando, e outro F, da família Ferreira. O primeiro F foi invertido para dar simetria ao Monograma. O "P", da família Pires, em vermelho no monograma, é para dar luz ao sobrenome usado pela família há mais de 300 anos, desde Portugal.

Acervo de Myriam Pires Ferreira e de Carlos de
Castro Monteiro.


fotografias.


Links externos


www.livrariaentrelivros.com.br

descrição: UM BRUXO À MESA DE JANTAR
Autor: Eneas Barros
Editora: Nova Aliança
Ano: 2024
Número de páginas: 244